segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Beagles, ganância e consumo

"Que ingenuidade, que pobreza de espírito, dizer que os animais são máquinas privadas de conhecimento e sentimento, que procedem sempre da mesma maneira, que nada aprendem, nada aperfeiçoam! Será porque falo que julgas que tenho sentimento, memória, ideias? Pois bem, calo-me. Vês-me entrar em casa aflito, procurar um papel com inquietude, abrir a escrivaninha, onde me lembra tê-lo guardado, encontrá-lo, lê-lo com alegria. Percebes que experimentei os sentimentos de aflição e prazer, que tenho memória e conhecimento.Vê com os mesmos olhos esse cão que perdeu o amo e procura-o por toda parte com ganidos dolorosos, entra em casa agitado, inquieto, desce e sobe e vai de aposento em aposento e enfim encontra no gabinete o ente amado, a quem manifesta sua alegria pela ternura dos ladridos, com saltos e carícias. Bárbaros agarram esse cão, que tão prodigiosamente vence o homem em amizade, pregam-no em cima de uma mesa e dissecam-no vivo para mostrarem-te suas veias mesentéricas. Descobres nele todos os mesmos órgãos de sentimentos de que te gabas. Responde-me maquinista, teria a natureza entrosado nesse animal todos os órgãos do sentimento sem objectivo algum? Terá nervos para ser insensível? Não inquines à natureza tão impertinente contradição."

[Voltaire, Dicionário Filosófico]


Diante do buzz que o resgate dos beagles do Instituto Royal gerou, e sendo totalmente favorável à atitude dos ativistas, muito começou a ser discutido nas redes sociais.

A mim, chegou um artigo interessante, que serviu de base para reflexões sobre o porquê desta atitude ser sim legítima na minha opinião e de algumas pessoas que conheço: http://easttowestskincare.com/2012/01/09/esclarecimentos-sobre-os-testes-em-animais-realizados-pela-industria-cosmetica/

A partir disto, vamos antes de tudo pensar no homem:
- o que existe há bilhões de anos, está em degradação acentuada, progressiva e acelerada graças a uma espécie de 10 mil anos que só sabe consumir, "evoluir", consumir mais e se "proliferar" para consumir mais ainda; -1 ponto
- é a espécie que mata ursos, tigres e alces (colocar um herbívoro é importante nesse exemplo, senão chega o outro e fala que "se não matarmos essas feras, elas nos matam", simples assim) não para se alimentar, mas para decorar motéis e quartos de chalés, como forma de status e poder. Também é a espécie que mata golfinhos para saudar deuses (China) ou para tomar poderosos afrodisíacos (sem comprovação científica) (Norte brasileiro) para uma noite de amor; -1 ponto
- é a espécie que bebe ensandecidamente, ouve músicas de 2 caras num palco e espera vibrantemente por um show de uma "sub-espécie", totalmente inferior, deplorável, indigna de qualquer respeito e consideração que vai carregar uma outra sub-espécie igualmente deplorável (só que bem mais) que está lá para disputar o mérito de quem é mais PODEROSO naquela noite em domar essa besta e, assim, ganhar um prêmio. E, novamente, ter uma bela noite de amor com fêmeas de almas flamejantes em busca desse poder e virilidade toda. Cruzando o Atlântico, o cenário piora um pouquinho, porque o "poder" é atribuído morbidamente à uma superexposição do sofrimento dessa besta animal, até ela morrer e, o toureiro, ter uma noite de amor; -2 pontos
- é a espécie que consome tudo, todos e qualquer coisa para sua mera satisfação fútil (esquece a pirâmide de Maslow... Foda-se Maslow e sua base com as necessidades básicas);
- é a espécie que, diferentemente do João-de-barro, que constroi sua casinha com um certo padrão estético instintivo se utilizando de folhagens e galhos secos, opta por derrubar todas essas casinhas, os galhos, os caules e as raízes das áreas verdes do João-de-barro, do sagui, do tamanduá para fazer um bloquinho de notas e uma bela cadeira para acomodar seus glúteos fartos durante um jantar que contempla, como prato, alguns primos dos atuais desabrigados;
Melhor parar os exemplos por aqui, senão a dramatização tomará proporções da história do Bambi, pelo Walt Disney.
Meu ponto de vista aqui é sobre o consumo insano por parte do ser humano.
Remontando o século passado, o blá blá blá de Revolução Industrial e pós-guerra, vamos chegar na revolução tenológica num planeta de mais de 7 bilhões de ocupantes dessa superespécie (enquanto existem outras que não tem mais do que 30 exemplares vivos TENTANDO sobreviver), que não possui nenhum outro predador (na verdade possui, mas o homem usa uma trapaça chamada lógica e racionalidade) senão ela mesma, que possui doutrinadores magnânimos espalhados pelos 4 cantos do mundo que defendem centenas de teorias espirituais, divinas e metafísicas (menos naturais, na maioria) onde somos senhores absolutos de tudo e todos e todo o resto da existência deve NOS servir.
Legal. Aí vc olha esse pequeno número e pensa como é muita gente para pouco planeta. Pensa na quantidade de João-de-barro sem casa e de touros agonizantes para que alguns homens e mulheres se entretenham - ora, os animais abatidos pela caça selvagem também agonizam, concordo, mas pelo menos não é em vão, pelo menos é para GARANTIR (repito, GA-RAN-TIR) a sobrevivência da espécie do predador - e de batons, delineadores, desodorantes e outras infinidades de produtos consumidos e inventados a cada ano para o... CONSUMO dessa megapopulação.
O teste feito no ratinho ontem, tendo terminado após uma conclusão, não vai demandar outras cobaias para que o creme anti-sinais entre em escala de produção, mas um novo anti-sinais surgirá amanhã, encomendado pela equipe de Marketing, Pesquisa e Desenvolvimento da multinacional que repensou nos pés-de-galinhas de 4 dedos, em vez de 3, e enxergou uma grande oportunidade de mercado a ser explorado, com possíveis retornos altos sobre esse investimento, consequente expansão dos negócios para produzir mais e atingir novos públicos com outras tantas "NECESSIDADES".
O artigo citado, bem anterior ao fato do resgate dos beagles é, de fato, coerente quando pensamos apenas na nossa existência, cotidiano, hábitos e esquecemos os preços altos que outras espécies vivas estão pagando.
O discurso "eco-chato" incomoda muita gente ainda que não percebe nitidamente esses impactos na vida. Talvez nem seus filhos e nem seus netos, como sempre é dito desde a criação da Eco 92, percebam, já que esses podem se tornar mais e mais reféns do consumo indiscriminado e sua "necessidade".
As empresas podem até estar tentando abolir esses tipos de testes, mas quanto aos testes em animais, partindo dessa massa bruta reflexiva exposta acima, e se lembrarmos que todos os avanços tecnológicos existiram graças à "revoluções" de algum tipo? A última, que acho bem expressiva, é a da indústria fonográfica, a chegada do Napster e do MP3, a guerra contra a pirataria, a guerra contra a ganância das gravadoras e a consequente tecnologia que permite a praticamente todos terem acesso a uma infinidade de músicas pagando menos da metade de um CD, de forma lícita e ética, mesmo porque torna a arte e a cultura realmente democratizada.
Invadir um instituto de pesquisa para resgatar cães usados como cobaia é muito legítimo, uma vez que essa "sub-espécie" é a única que mais ganhou respeito dos homens nos últimos séculos. Os cães possuem um poder de persuasão midiática estrondoso, assim como crianças (por que vc acha que comerciais adoram usá-los sempre?) e talvez possam servir como "porta-vozes" dos camundongos de laboratórios e tantos outros. Essa invasão permite um impacto profundo na opinião pública, a qual passa a refletir, repercutir e, até mesmo, boicotar as empresas que realizam esses tipos de testes. Esse é um primeiro passo para que os bolsos comecem a ser sentidos pelas empresas e estas invistam com mais "vontade" em tecnologias que permitam a abolição de testes em animais.
O grande problema de tamanho atraso na nossa sociedade está ainda nas mãos do poder, tanto religioso como econômico. O religioso porque considera escravizar indiscriminadamente as outras espécies como forma legítima em favor da preservação da espécie humana, a qual cresce exponencialmente, sem controle e freios porque acredita-se que é o papel do homem crescer e se multiplicar. Nem mesmo a morte natural pode servir como equilíbrio para o excesso, uma vez que essas outras espécies testadas em laboratório servem, inclusive, para aumentar a longevidade da espécie humana. Quanto o poder econômico... Na verdade não sei porque separei poder econômico do religioso, já que são farinha do mesmíssimo saco, mas talvez tenha sido para refletir mais especificamente sobre os interesses políticos e corporativos de lucros para reinvestir em crescimento, que serão reinvestidos em novos públicos, os quais consumirão mais e gerarão mais lucro, e crescerão em maior quantidade e farão parte de uma bolha, talvez a maior de todas já criada pelo homem e que poderá reverter em sua própria extinção um dia.

Concluindo...
Neste artigo tentei traduzir um ponto de vista um pouco fora do que mais se viu no fato, que foi a penalização por parte da opinião pública por se tratarem de beagles sendo usados como cobaias. Inclusive, foi um fato que já vinha sendo discutido em petições públicas e por pessoas taxadas como "eco-chatas" nas redes sociais, mas que só ganhou relevância por ter sido algo realizado "in loco", com cobertura da imprensa, já que se tratavam de beagles, raça tão bonitinha e fofinha que além de alegrar, também "decora" algumas residências, já que agrega status dentre aquelas orelhinhas caídas. Também tentei refletir que a questão não é apenas se preocupar que, apesar de os animais não terem racionalidade (o que é mesmo racionalidade, né?) e nem alma, segundo as religiões mais "pops", eles possuem um sistema nervoso central capaz de provocar dores e incômodos igualmente intensos aos que somos capazes de sentir, mas também que as justificativas para isso tudo poderiam ser um pouco mais éticas ou amparadas por um equilíbrio.
Por fim, muitos vão perguntar: "então, vc acha que devemos voltar à idade da pedra?". Eu responderia: "não é para tanto se colocarmos limitadores nas nossas futilidades, mas como eu não acredito que isso vá acontecer, eu sinceramente preferiria ser um Neanderthal inofensivo, do que me sentir parte de um câncer ambiental".

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

UMA CARTA DE ÓDIO


Procurei a forma mais sincera pra falar sobre esse ódio. E de como ao mesmo tempo posso odiar o tudo e o nada. Do mesmo jeito e com a mesma intensidade.

E de como eu não o faço, nem um pouquinho, nem por um instante.

Ou falar de como eu repasso, refaço os passos que conflitam com o não querer seguir. E o não querer seguir está ali, já que todos os caminhos levarão ao mesmo ponto e já não existe mais qualquer ponto que se queira seguir.

Eu odeio. Eu odeio tanto e tanto que já não odeio nem um pouco. E amo. Amo, mesmo sabendo que o amor é inútil. É sentimento descartável, como gostar ou não de tudo o que lhe é imposto.

A verdade é que você para mim é como os peixes fluorescentes, os mímicos tchecos e os bailarinos tailandeses. E eu? Eu sou a prova da imaturidade que, delicadamente, significa nada mais que ser o idiota.

A verdade de todo ódio mora em dizer que diante dos peixes fluorescentes, bailarinos tailandeses e mímicos tchecos, eu sou o idiota! E sempre serei.

E que toda admiração depositada, mesmo diante das vestes de cores medíocres, brilha aos olhos da mesma maneira que arranca um pedaço de pele.
 
E o amor? O amor é qualquer coisa que se queira que seja. É qualquer coisa que te rotula, que espeta, diária e paulatinamente, até que você se convença de que já não existe tal coisa.

O resto? O resto é sobrevivência. Dormir e acordar. E nesse meio tempo cumprir qualquer coisa que lhe esfreguem.

O ódio? O ódio fica ali. Lembrando daquele espetáculo lindo que vi uma vez. Aquele que aos meus olhos brilhantes tinham peixes fluorescentes e inauditos. Exatamente aquele espetáculo que me espeta diária e paulatinamente, lembrando, com grande maestria, que eu sou o idiota. E sempre serei.

Referências:

- Cortázar, Julio. A volta ao dia em oitenta mundos.

domingo, 14 de abril de 2013

Eu sô de menó, sinhô, eu num vô prezo

Não querendo ser dramático, apenas realista e racional: estou cada vez mais desistindo de ter filhos, constituir família e apostar tudo o que posso fazer neste país. De repente, eu faço isso e levo um tiro na cara de graça.

Mas ok, vou racionalizar melhor por aqui, já que nas mídias sociais, agora, é "inadequado" emitir a própria opinião. É proibido gostar ou deixar de gostar de algo. Todos mandam, todos controlam o que você pode pensar, sentir, fazer, desfazer, inclusive nós mesmos, cheios de julgamentos e sendo pretensiosos senhores absolutos do senso de moralidade e verdades totalitárias.

Hoje, ao me deparar com a seguinte matéria http://www.dgabc.com.br/News/6019974/governo-e-contra-reducao-da-maioridade-penal.aspx , me assustei - até aí, sem novidades, já que 95% das coisas que eu vejo nos jornais hoje em dia me assustam - com tamanha incoerência, falta de argumentos plausíveis e cara de pau.

Não deveria ser preciso um jovem de 19 anos ser assassinado na porta de casa, por um menor, quando voltava da faculdade, para o assunto cair em debate com mais força. Tantos outros crimes já aconteceram da mesma forma, ou até mais bárbaros! Mas já que foi necessário mais um "mártir", que o debate seja feito, então, mas NÃO MAIS ESQUECIDO!

Então a maioridade penal é condenada pelo governo atual? - Anteriormente foi condenada também, só que ainda num contexto um pouco diferente, que vou abordar adiante - O mesmo governo incompetente para dar conta de um sistema carcerário decente, à prova de fugas e domínio por parte da bandidagem e condições dignas à polícia para atuarem como deveriam? O mesmo governo que ganha votos, principalmente, das classes mais baixas, facilmente manipuláveis graças à péssima qualidade da educação do nosso país? Aquelas classes mais baixas facilmente conquistadas por pacotes miraculosos como o Bolsa Família - aquele mesmo que gera frases do tipo "se eu tiver mais filhos, vou ganhar mais do governo, então vamos fazer filho!" - e facilmente corrompíveis, já que a miséria (somada à tal educação escassa) é o grande motor da criminalidade? Ah, tá!

O (in)Digníssimo Senhor Gilberto Carvalho, citado na matéria, afirma que "É necessário que os governantes tenham muita maturidade naquilo que falam, que propõem, em uma hora como esta. É uma situação muito mais complexa do que simplesmente ficar mexendo na questão da idade penal". O pior é que eu concordo! Realmente, a raiz desse problema mora nas questões do parágrafo anterior, mas algo foi feito para melhorar de forma significativa essas mesmas questões? Até agora... NÃO! O Governo brasileiro não é sempre o primeiro a sugerir "medidas paleativas" para situações que requerem providências imediatas? Então, está aí, mais uma grande oportunidade, antes que o meu ou o seu pai, irmão, irmã, namorado, tio, tia, avô, padeiro, dentista, garçom, fexineiro, enfermeiro, amigo ou, até mesmo, eu ou você morram por um pivete que já tem discernimento mais do que necessário para saber o que é tirar a vida de alguém para NADA.

E por falar em discernimento e pivete, aí é que entramos no tal contexto que até poderia validar, há um tempo atrás, preservar essa maioridade penal para os 18 anos. Quem já tem seus vinte e poucos anos, já consegue perceber a diferença dos jovens de hoje com os de até uns 15 anos atrás. Isso, independentemente da classe social! O mundo mudou, as coisas mudaram, tudo é infinitamente mais rápido de se saber, aprender, conhecer, fazer, mudar. E não só (mas responsável por boa parte, também) por conta da tecnologia, mas pela sociedade de modo geral. "Ah, mas o bandidinho de 16 anos que estava fumado de crack e matou meu tio não tinha computador na casa dele"... Que argumentinho safado, hein? Primeiro que, hoje em dia, acesso à tecnologia vem deixando de ser privilégio, felizmente, mas mesmo que esse indivíduo não tivesse esse acesso, já pensou em todos os fatores sociais ao seu redor que permitem que ele tenha acesso a tudo que faça ele se sentir parte excluída do ambiente em que vive? Desde o traficante, que o induz à criminalidade e mostra um mundo pseudo-cor-de-rosa de carros, roupas e BRINQUEDOS, além de um ou outro agrado para a família que ele possa dar até o ser desprezível que o humilha na porta de um restaurante só porque ele esbarrou no retrovisor de seu carro. Daí ele também conhece já toda a malandragem das delegacias, dos policiais que o espancaram, de como as coisas funcionam e da lei da causa e efeito, bem explícita, inclusive, para ele em sua vida. Sério mesmo que ele não tem esse discernimento?

Reduzir a maioridade penal significaria reduzir PALEATIVA E TEMPORARIAMENTE a quantidade de marginais menores de idade. Vamos pensar em números: 100 marginais, sendo 33 maiores de idade, 33 entre 15 e 17 anos e 33 com menos de 15 anos. Concorda que 33+33=66, o que, neste exemplo, corresponde a 2/3? Ainda sobram 33 livres (1/3) com menos de 15 anos e, estes sim, possivelmente "moldáveis", já que, novamente, HOJE EM DIA, talvez até dê para dizer que de 15 anos para menos ainda está em fase de amadurecimento intelectual e moral, porque esse outro bandidinho que matou seu tio e falamos no parágrafo anterior... Pfff... Já era.

O nosso também (in)Digníssimo Vice-Presidente da República Michel Temer, afirmou, segundo também essa matéria do Diário do Grande ABC, que "Ainda hoje eu vi um argumento que diz 'reduz para 16'. Mas e daí? O sujeito tem 15 anos e meio e comete um crime. O que você faz? Reduz para 15? Não sei se é por aí." Prezado Vice-Presidente, você conhece bem de matemática para estar onde está, ter o que tem e fazer o que faz, certo? Tirando a falta de competência de seu (e dos anteriores) governo em lidar com a base do problema, faça essas continhas de proporção! Não somos obrigados a ser vítimas de mais um "achismo" político! Você e seu Nobre Colega Gilberto Carvalho, Vossa Excelência Dilma Roussef e diversos outros ótimos articuladores de lenga-lenga que estão no poder NÃO são senhores da razão. Vocês representam 1% de toda a população brasileira, e estão onde estão para representar a maioria. Lembram do conceito de Público X Privado e que o interesse individual não pode se sobrepor ao interesse coletivo em uma sociedade? Pois bem. Não acreditam? Façam um PLEBiscito (deixe a plebe, os inferiores, os que colocaram vocês onde estão) escolherem o que é melhor para eles mesmos, já que o pior para eles está garantido.

Fora que eu pago para ver um desses bandidinhos serem presos e não poderem mais falar "eu sô de menor, sinhô".

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Reflexões de Santa Maria à ONU, com escala em Brasília

Não querendo brincar de Sônia Abrão, J. L. Datena, Marcelo Rezende ou COISAS do tipo. Também não querendo reviver tragédias ou passar a impressão de abutre de fatos. Mas, apesar de eu não ser muito fã do ser humano, eu ainda sou um humano e, diferente de uma barata, possuo sangue humano.

Estamos no 2º dia seguinte à tragédia do incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Talvez, com os meus quase 28 anos, esteja realmente perturbado e triste por isso. Mais ainda pela proximidade à idade dos que lá estavam e por ter a maior parte dos amigos, que eu amo, também jovens dessa faixa etária, sabendo que "foi algo que poderia ter acontecido comigo e/ou com eles" (frase clichê, fato, mas é real).

Fico pensando muito neste conflito entre o olhar uma tragédia, sentir as dores que não são suas, mas que são latentes, claras e inegáveis, afinal são histórias, sonhos, personalidades, valores, elementos de uma família, de um círculo social ou de um relacionamento que se extinguiram em menos de minutos por pura negligência e, ACIMA DE TUDO, irresponsabilidade de um acéfalo como o da criatura que foi acender um sinalizador num ambiente como aquele!

De qualquer forma, às vezes, nessas horas, os sentimentos são sobrepostos pela burrice ou se sobrepõem aos fatos. A parte mais clássica das tragédias assim está por vir, que é a hora de apontar o dedo. E apontar os dedos, considero uma coisa, fazer uma investigação justa e punir os merecidos, outra. Isto porque, apesar de o vocalista da banda ter sido inconsequente, agora chovem especialistas para alimentarem os jornais acusando um e outro. Mas, será que a culpa não é generalizada em contraste, também, com uma fatalidade? Afinal, um sinalizador gerou faíscas em um forro tóxico sob combustão, em uma casa noturna com uma única saída de emergência, a qual funcionava, apesar de estar com o alvará vencido, com a permissão da prefeitura, que considerava as condições regulares para seu funcionamento, por conta de falta de fiscalização, já que não há leis rígidas para esse tipo de controle, pois vivemos no (apesar do clichezasso) país da impunidade, burocracia e negligência, adjetivos estes que até outros países enxergam (volto com isto mais para frente no texto).

Mas achar a chave disso não acaba com a tristeza de quem fica, de quem assiste, de quem perdeu.

Ok, pessoas morrem todos os dias, de várias maneiras e blá, blá, blá, "ninguém dá atenção para quando uma favela inteira sofre um incêndio", "ninguém se abala quando um cidadão desconhecido é assassinado, e sim só quando alguém famoso/importante sofre isso", enfim. Nessas horas surgem todos os tipos de donos de verdades, argumentos, especulações, acusações, discussões, sentimentos, etc, etc, etc. Postar algo na timeline do Facebook vai ser compartilhado e curtido por um e alvejado, direta ou indiretamente, por outros, com frases ou pensamentos clichês como "já chega de comentar isso", "vamos falar de coisas boas e respeitar quem está sofrendo", dentre outras. Mas, partindo do ponto em que se trata de um canal de COMUNICAÇÃO, cuja a pergunta-chave é "Fulano, o que você está pensando agora?", soa meio estranho esse tipo de condenação dos "censores civis" de plantão. Por outro lado, é fato que existe um certo prazer mórbido em algumas pessoas que compartilham os detalhes mínimos da tragédia, replicam "notícias fresquinhas" arrancadas de sacos de lixo midiáticos espalhados por todos os cantos, comentam tudo sem o menor julgamento e nem uma análise mais cuidadosa dos fatos. Mesmo assim, isso é problema de cada um, pois está no seu espaço (outros invadem o espaço alheio, e isso sim, é um problema) de livre expressão, desde que não ultrapasse a sanidade ou o senso ético mínimo exigido socialmente.

Friamente falando (racionalizando), generalizar que não há comoção nacional, ou mundial, quando a favela pega fogo, ou quando o cidadão anônimo é assassinado, é uma certa mentira. Como assim? Vamos pensar estatisticamente falando! Simples assim! Muitos de nós somos os primeiros a falar que a hora do jantar de todos os brasileiros que assistem ao Jornal Nacional (pois é um verdadeiro símbolo, mas que não anula os seus "comparsas" jornalísticos de outras emissoras) é acompanhado de um farto suquinho de sangue (Drácula adoraria um típico jantar brasileiro) durante aquele momento quase que (ou totalmente para alguns casos) sagrado. A partir daí, vamos imaginar como seria diariamente a cobertura de cada catástrofe, acidentes e crimes pelas televisões e jornais... Inimaginável, né? Dá até para sentir vontade de colocar a discografia inteira do funk carioca para se ouvir no lugar de ligar a TV. E, se despindo do véu da hipocrisia massificada, é possível enxergar melhor que SIM, em casos onde o estrago é bem maior, o povo brasileiro (apesar de ser podrinho, muitas vezes [quase sempre]) tem uma generosidade e compaixão com o próximo que chega a ser invejável (PENA QUE prefere perder dinheiro e tempo ligando inúmeras vezes para eliminar algum participante do BBB do que assinando uma petição online como a da campanha NÃO FOI ACIDENTE ). Nós mandamos sim, mantimentos, cobertores, produtos de higiene, rações para os animais, etc, para os atingidos pelas fortes chuvas no RJ; mandamos sim, essas mesmas coisas para a cidade de Santa Maria, que passa por um momento absurdamente doloroso; mandamos sim, ajuda para uma comunidade que sofreu perdas irreparáveis em catástrofes cruéis; fazemos sim, passeatas por justiça quando alguém famoso é assassinado, ou um anônimo é CRUELMENTE assassinado. Quando pensamos e enxergamos isso, até é mais aceitável recebermos vastas informações sobre um fato trágico, MAS quando vemos um repórter quase que maquiando, induzindo e fazendo a vítima (ou o telespectador) fazer beicinhos, carinhas e torcendo até tirar a lágrima mais profunda de suas glândulas lacrimais, aí o jornalismo perde totalmente, e nojentamente, sua credibilidade, coerência e função social de informar. Nasce a guerra pelo IBOPE do final da tarde.

Falando em guerra pelo IBOPE, esta tragédia de Santa Maria abrangeu um "pouquinho" mais que a população local ou os brasileiros. Nós estamos consternados e, inevitavelmente, como sempre acontece, existe essa exploração da mídia bancando o espremedor de vítimas para tirar bastante suquinho para o horário da janta dos brasileiros. Eles, o mundo, até estão chocados com a tragédia, afinal 231 mortos, e tal... Mas, o que está pegando mesmo é que eles estão preocupadíssimos, a exemplo de capas de jornais impressos e televisivos como The New York Times, The Washington Post, BBC, El País e, até, Al Jazeera, com a nossa eficiência em evitar tragédias.

"Cri, cri, cri", já diria o grilo ao relento da noite no silêncio. Será que eles estão errados? CALMA! Eu sei que a gente também se chocou, ficamos preocupados e até ajudamos em casos como dos EUA, com o de 11 de Setembro ou o furacão Sandy, e sei que eles também se mobilizaram algumas vezes para nos ajudar. Diplomacia é isso. MAS, vamos lembrar que somos o país da Copa e das Olimpíadas, estamos sob os holofotes neste momento e já estamos com a moral bem baixa, e o mundo já perdeu vários estrangeiros, que vieram visitar o Brasil para levar lembranças boas (assim como os jovens que foram a uma festa numa boate sem estrutura, para levar lembranças boas), em homicídios e várias, com o perdão da palavra, CAGADAS nossas. (Ok, ok, ok, nós também já perdemos brasileiros lá fora dessa forma, concordo, mas continue lendo). Mas não seria essa, uma preocupação legítima dos outros países? Afinal, se esses vão se afastar de seus compatriotas para que assistam dois eventos esportivos de nível mundial, conheçam nossa cultura, nossa natureza, enfim, o que o Brasil tem para oferecer, eles também querem que cuidemos com o carinho e atenção necessários para que eles voltem sãos e salvos! Não era assim quando você ia passar a tarde na casa do amiguinho e a mãe dele preparava tudo que você gostava, além de ter que seguir a risca as recomendações da sua mãe para que nada de errado acontecesse? Pois bem. Se as leis são fracas, corrupção rola a solta, impunidade prevalece - argumentos citados pelos próprios jornais internacionais em questão -, como eles vão ter certeza de que seus "filhos" estarão em boas mãos? Compreensível, não? Na cabeça deles, que seria a minha, com certeza neste caso, se não temos capacidade de cuidar de 2 mil vidas, imagine 200 mil!!!

Então, retomando as reflexões sobre ajudarmos e ser ajudados, pegaria bem mal se tivéssemos que pedir ajuda para as mães dos nossos visitantes nos socorrerem se nossa casa caísse em cima deles, não?

Até que a Tia Dilma está fazendo bem esse papel de professorinha que dá "carcada" nos alunos depois do recreio, como fez com os mais de 5 mil prefeitos do Brasil hoje. Mas, ainda assim, falta muuuuito! Humildemente acho eu - tá bom, acredito que outras pessoas também, vai... - que se é para estarmos sob os holofotes, deveríamos estar maduros para sair bem na foto, mas isso não acontece e, DÚVIDO MUITO, que vá acontecer a tempo.

Mas aí, sempre vem os choramingões tupiniquins falar que a Espanha é boba, que os EUA tem cara de pastel, que a França cheira a linguiça ou que o Canadá tem caca no nariz quando eles "citam" o Brasil como fomos citados desta vez.

Mas, repetindo o clichê, apesar de tudo isso, nada repara o estrago causado, mas serve de alerta para o futuro. Infelizmente, é quase sempre assim: ninguém acha que vai acontecer algo e não faz nada. Quando acontece, xiiii...

#PiadistaDaJuréia

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Retomando as atividades

Sabe uma coisa que é realmente chata ao criar um blog como este, alimentá-lo durante um tempo com coisas que vc até que se orgulha de ter pensado ou escrito, e depois ter abandonado por um tempo? É o fato de vc comentar dele para amigos e conhecidos, com orgulho, mas ele não passa de um peso de papel em cima de uma estante. Um blog como este eu gosto de tratar como uma ideia. E uma ideia sempre precisa ser compartilhada para estar viva e ter o seu valor.

Por isso, em um rompante noturno, retomo meus posts aqui. Convidei mais 1 membro e reconvido os outros a voltarem a postar também.

Relembrando que este blog não é MEU. Este blog, simplesmente é. Ele dependerá de ideias para ser alimentado. De ideias, de indignações, de percepções, de questionamentos, de humor e, PRINCIPALMENTE, de bons argumentos para se manter, se desenvolver e se tornar relevante, mesmo que seja durante 5 minutos no momento ocioso de alguém que caia aqui sem querer e que esteja de férias na Indonésia.

E vale lembrar, também, que a proposta dele é ser um programa da Christina Rocha ou da Márcia Goldschmidt numa versão intelectualizada!! (rsrs)

Sejam, então, bem-vindos novamente!

#PiadistaDaJureia

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A Bunda dura que machuca o Quadril!

Seria muito injusto dizer que as mulheres que se sabem bonitas sustentam-se nisso?

Claro que eu sei que não dá para generalizar, não posso dizer que as mulheres bonitas não têm um cerébro, até porque eu estaria me colocando automaticamente no time das feias e eu me recuso a fazer isso! rs.

Mas cada vez mais reparo que hoje em dia as mulheres acham que mais vale um bunda dura do que um livro. E não me venham com o Vampiro que brilha!

Antigamente os homens procuravam diversão fora de casa, já que as esposas tinham filhos, engordavam, ficavam flácidas, não faziam sexo oral, cheiravam farinha e viviam tão incondicionalmente aos cuidados de seus maridos que eles enxergavam nelas uma extensão de suas próprias mães.

Agora as esposas ficam em casa, gastam o dinheiro do marido, vão shopping, saem com as amigas, vão à academia e cultuam seus glúteos.

O cara chega em casa, matou um leão a cada cinco minutos, fechou contratos, vendeu milhões, contribuiu para o PIB, discutiu os indíces da bolsa, influenciou vidas que dependem das suas decisões profissionais e sua esposa lhe oferece uma bunda bonita como troféu e discute sobre o kilo do tomate.

Agora o cara sai e procura na rua uma mulher que consiga conversar com ele, com quem ele possa fazer sexo de quatro sem machucar os ossos do quadril, alguem com quem possa rir de si mesmo e fumar um cigarro sem escutar sobre o entupimento de veias.

Um indivíduo sai na rua e troca uma gostosa por uma mulher do mundo moderno. É inevitavel.

Aí eu me pergunto: Será que os homens no fim das contas gostam disso?

Eles gostam de um ciuminho, de um esposinha, de uma submissãozinha, de alguém esteja ali dependendo deles 100%?

Grande parte das mulheres, atualmente, nao só as casadas, se sustentam em sua beleza. Sou bonita e pronto. Imagina que meu Senhor vai procurar outra com uma gostosa dessa na cama ou imagina que eu vou morrer solteira, uma mulher gostosa como eu nao fica mto tempo sozinha...

Vivemos o tempo mais descarado da superficialidade, da absoluta falta de profundidade, do conhecimento raso, do cabelo liso, da novela das oito e do gemido fino!

E triste é imaginar que é isso Afinal, que querem os homens!


#HeraVenenosa#

terça-feira, 22 de junho de 2010

"Homo homini lupus"

Este é um daqueles posts que a gente faz na madrugada, quando já cansou de pensar, quando o sono não vem.

Há alguns anos, no tempo em que entrei na faculdade, tive minha primeira lição "Homo homini lupus".

Eu até podia compreender num gênero literário o que aquilo queria dizer, mas minha pouca experiência de vida e inocencia não acompanhavam aquele raciocínio que revelava uma "nequícia" inerente à condição humana.

Com o passar do tempo e mais especificamente recentemente, pude vivenciar alguns comportamentos que me levaram a indagar o quanto eu ainda posso ser inocente.

O homem sempre tem um interesse, não importa qual seja. Ninguém nunca se aproxima de outrem sem um interesse aparente. Obviamente, não estou falando aqui daquele interesse que nasce entre um homem e uma mulher, que é na verdade um desejo de conhecerem-se e partilharem-se.

Invoco aqui algo oportunista, algo de que se possa tirar uma vantagem sobre algum ponto de vista.

Seus amigos só carregam este título porque há que lhes possa oferecer, com o passar do tempo você percebe que aqueles que permanecem ao seu lado quando, de alguma forma, vc se torna inutil, são os que te querem verdadeiramente.

As pessoas desejam um bom contato de trabalho, querem o seu lugar, seu trabalho, sua vaga, querem um contato de pessoas, roubam seus amigos, seus amantes, querem você como um palhaço, roubam sua saúde, usam você como psicólogo, despejam suas vidas, roubam sua sanidade. Usam, descartam e limpam os pés sobre o tapete que teceram.

O homem é o lobo do homem.

No auge do meu inferno astral, do meu coração partido, do meu amadurecimento pungente e compulsório, eu sinto dolorosamente que o homem é um grande filho da puta.

Enfastia pensar duas vezes em tudo que eu faço, em tudo que eu digo, nessa desconfiança dos que conheço. Afadiga ser paulatina e notoriamente embaída.

É como ter todos os dias uma mão que te passam na bunda e riem da sua cara.

Por que? Porque eu sou melhor que alguém? Aposto que esse leitores críticos, que se coçam pelo fim do texto e pelo clicar dos comentários se perguntam agora. Será que ela se coloca em posição superior.

Eu digo: Não.

Eu apenas me abri ao mundo porque um dia fui amor. Ah...que balela, não é?

Pois, se cada um aqui, que pode se enxergar nesse texto, que está lendo isso e se reconhece só mais um homem que despoja seu semelhante na busca de uma vantagem, vos digo: há um lobo maior lá fora à sua espera.

Há o imenso mundo que desconhecemos lá fora, louco por você. Pois ninguém escalavra-se daquilo que lhe é fadário.

Você recebe em troca o que deu ao mundo, na mesma proporção. E isso está atrelado unicamente à sua conduta.

Então, para aqueles que acreditam que a mágoa é subjetiva só porque está no coração de quem sente. Ou para aqueles que invejam, que cobiçam, que desdenham, que erradicam e cospem nas costas do seu semelhante com a covardia de quem não o pode fazer cara-a-cara, eu digo: O mundo e a saudade serão teus algozes. E o tempo passará a mão na tua bunda.

E quando esse tempo chegar, eu vou assistir. E muitas outras pessoas também estarão ali, lado a lado, aplaudindo o teu cataclismo.

Porque o que hoje dói, amanhã me faz forte.


"Preste atenção querida

De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás a beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés"
                                                            (Cartola)





#HERA VENENOSA#