quarta-feira, 14 de agosto de 2013

UMA CARTA DE ÓDIO


Procurei a forma mais sincera pra falar sobre esse ódio. E de como ao mesmo tempo posso odiar o tudo e o nada. Do mesmo jeito e com a mesma intensidade.

E de como eu não o faço, nem um pouquinho, nem por um instante.

Ou falar de como eu repasso, refaço os passos que conflitam com o não querer seguir. E o não querer seguir está ali, já que todos os caminhos levarão ao mesmo ponto e já não existe mais qualquer ponto que se queira seguir.

Eu odeio. Eu odeio tanto e tanto que já não odeio nem um pouco. E amo. Amo, mesmo sabendo que o amor é inútil. É sentimento descartável, como gostar ou não de tudo o que lhe é imposto.

A verdade é que você para mim é como os peixes fluorescentes, os mímicos tchecos e os bailarinos tailandeses. E eu? Eu sou a prova da imaturidade que, delicadamente, significa nada mais que ser o idiota.

A verdade de todo ódio mora em dizer que diante dos peixes fluorescentes, bailarinos tailandeses e mímicos tchecos, eu sou o idiota! E sempre serei.

E que toda admiração depositada, mesmo diante das vestes de cores medíocres, brilha aos olhos da mesma maneira que arranca um pedaço de pele.
 
E o amor? O amor é qualquer coisa que se queira que seja. É qualquer coisa que te rotula, que espeta, diária e paulatinamente, até que você se convença de que já não existe tal coisa.

O resto? O resto é sobrevivência. Dormir e acordar. E nesse meio tempo cumprir qualquer coisa que lhe esfreguem.

O ódio? O ódio fica ali. Lembrando daquele espetáculo lindo que vi uma vez. Aquele que aos meus olhos brilhantes tinham peixes fluorescentes e inauditos. Exatamente aquele espetáculo que me espeta diária e paulatinamente, lembrando, com grande maestria, que eu sou o idiota. E sempre serei.

Referências:

- Cortázar, Julio. A volta ao dia em oitenta mundos.

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