terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Reflexões de Santa Maria à ONU, com escala em Brasília

Não querendo brincar de Sônia Abrão, J. L. Datena, Marcelo Rezende ou COISAS do tipo. Também não querendo reviver tragédias ou passar a impressão de abutre de fatos. Mas, apesar de eu não ser muito fã do ser humano, eu ainda sou um humano e, diferente de uma barata, possuo sangue humano.

Estamos no 2º dia seguinte à tragédia do incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Talvez, com os meus quase 28 anos, esteja realmente perturbado e triste por isso. Mais ainda pela proximidade à idade dos que lá estavam e por ter a maior parte dos amigos, que eu amo, também jovens dessa faixa etária, sabendo que "foi algo que poderia ter acontecido comigo e/ou com eles" (frase clichê, fato, mas é real).

Fico pensando muito neste conflito entre o olhar uma tragédia, sentir as dores que não são suas, mas que são latentes, claras e inegáveis, afinal são histórias, sonhos, personalidades, valores, elementos de uma família, de um círculo social ou de um relacionamento que se extinguiram em menos de minutos por pura negligência e, ACIMA DE TUDO, irresponsabilidade de um acéfalo como o da criatura que foi acender um sinalizador num ambiente como aquele!

De qualquer forma, às vezes, nessas horas, os sentimentos são sobrepostos pela burrice ou se sobrepõem aos fatos. A parte mais clássica das tragédias assim está por vir, que é a hora de apontar o dedo. E apontar os dedos, considero uma coisa, fazer uma investigação justa e punir os merecidos, outra. Isto porque, apesar de o vocalista da banda ter sido inconsequente, agora chovem especialistas para alimentarem os jornais acusando um e outro. Mas, será que a culpa não é generalizada em contraste, também, com uma fatalidade? Afinal, um sinalizador gerou faíscas em um forro tóxico sob combustão, em uma casa noturna com uma única saída de emergência, a qual funcionava, apesar de estar com o alvará vencido, com a permissão da prefeitura, que considerava as condições regulares para seu funcionamento, por conta de falta de fiscalização, já que não há leis rígidas para esse tipo de controle, pois vivemos no (apesar do clichezasso) país da impunidade, burocracia e negligência, adjetivos estes que até outros países enxergam (volto com isto mais para frente no texto).

Mas achar a chave disso não acaba com a tristeza de quem fica, de quem assiste, de quem perdeu.

Ok, pessoas morrem todos os dias, de várias maneiras e blá, blá, blá, "ninguém dá atenção para quando uma favela inteira sofre um incêndio", "ninguém se abala quando um cidadão desconhecido é assassinado, e sim só quando alguém famoso/importante sofre isso", enfim. Nessas horas surgem todos os tipos de donos de verdades, argumentos, especulações, acusações, discussões, sentimentos, etc, etc, etc. Postar algo na timeline do Facebook vai ser compartilhado e curtido por um e alvejado, direta ou indiretamente, por outros, com frases ou pensamentos clichês como "já chega de comentar isso", "vamos falar de coisas boas e respeitar quem está sofrendo", dentre outras. Mas, partindo do ponto em que se trata de um canal de COMUNICAÇÃO, cuja a pergunta-chave é "Fulano, o que você está pensando agora?", soa meio estranho esse tipo de condenação dos "censores civis" de plantão. Por outro lado, é fato que existe um certo prazer mórbido em algumas pessoas que compartilham os detalhes mínimos da tragédia, replicam "notícias fresquinhas" arrancadas de sacos de lixo midiáticos espalhados por todos os cantos, comentam tudo sem o menor julgamento e nem uma análise mais cuidadosa dos fatos. Mesmo assim, isso é problema de cada um, pois está no seu espaço (outros invadem o espaço alheio, e isso sim, é um problema) de livre expressão, desde que não ultrapasse a sanidade ou o senso ético mínimo exigido socialmente.

Friamente falando (racionalizando), generalizar que não há comoção nacional, ou mundial, quando a favela pega fogo, ou quando o cidadão anônimo é assassinado, é uma certa mentira. Como assim? Vamos pensar estatisticamente falando! Simples assim! Muitos de nós somos os primeiros a falar que a hora do jantar de todos os brasileiros que assistem ao Jornal Nacional (pois é um verdadeiro símbolo, mas que não anula os seus "comparsas" jornalísticos de outras emissoras) é acompanhado de um farto suquinho de sangue (Drácula adoraria um típico jantar brasileiro) durante aquele momento quase que (ou totalmente para alguns casos) sagrado. A partir daí, vamos imaginar como seria diariamente a cobertura de cada catástrofe, acidentes e crimes pelas televisões e jornais... Inimaginável, né? Dá até para sentir vontade de colocar a discografia inteira do funk carioca para se ouvir no lugar de ligar a TV. E, se despindo do véu da hipocrisia massificada, é possível enxergar melhor que SIM, em casos onde o estrago é bem maior, o povo brasileiro (apesar de ser podrinho, muitas vezes [quase sempre]) tem uma generosidade e compaixão com o próximo que chega a ser invejável (PENA QUE prefere perder dinheiro e tempo ligando inúmeras vezes para eliminar algum participante do BBB do que assinando uma petição online como a da campanha NÃO FOI ACIDENTE ). Nós mandamos sim, mantimentos, cobertores, produtos de higiene, rações para os animais, etc, para os atingidos pelas fortes chuvas no RJ; mandamos sim, essas mesmas coisas para a cidade de Santa Maria, que passa por um momento absurdamente doloroso; mandamos sim, ajuda para uma comunidade que sofreu perdas irreparáveis em catástrofes cruéis; fazemos sim, passeatas por justiça quando alguém famoso é assassinado, ou um anônimo é CRUELMENTE assassinado. Quando pensamos e enxergamos isso, até é mais aceitável recebermos vastas informações sobre um fato trágico, MAS quando vemos um repórter quase que maquiando, induzindo e fazendo a vítima (ou o telespectador) fazer beicinhos, carinhas e torcendo até tirar a lágrima mais profunda de suas glândulas lacrimais, aí o jornalismo perde totalmente, e nojentamente, sua credibilidade, coerência e função social de informar. Nasce a guerra pelo IBOPE do final da tarde.

Falando em guerra pelo IBOPE, esta tragédia de Santa Maria abrangeu um "pouquinho" mais que a população local ou os brasileiros. Nós estamos consternados e, inevitavelmente, como sempre acontece, existe essa exploração da mídia bancando o espremedor de vítimas para tirar bastante suquinho para o horário da janta dos brasileiros. Eles, o mundo, até estão chocados com a tragédia, afinal 231 mortos, e tal... Mas, o que está pegando mesmo é que eles estão preocupadíssimos, a exemplo de capas de jornais impressos e televisivos como The New York Times, The Washington Post, BBC, El País e, até, Al Jazeera, com a nossa eficiência em evitar tragédias.

"Cri, cri, cri", já diria o grilo ao relento da noite no silêncio. Será que eles estão errados? CALMA! Eu sei que a gente também se chocou, ficamos preocupados e até ajudamos em casos como dos EUA, com o de 11 de Setembro ou o furacão Sandy, e sei que eles também se mobilizaram algumas vezes para nos ajudar. Diplomacia é isso. MAS, vamos lembrar que somos o país da Copa e das Olimpíadas, estamos sob os holofotes neste momento e já estamos com a moral bem baixa, e o mundo já perdeu vários estrangeiros, que vieram visitar o Brasil para levar lembranças boas (assim como os jovens que foram a uma festa numa boate sem estrutura, para levar lembranças boas), em homicídios e várias, com o perdão da palavra, CAGADAS nossas. (Ok, ok, ok, nós também já perdemos brasileiros lá fora dessa forma, concordo, mas continue lendo). Mas não seria essa, uma preocupação legítima dos outros países? Afinal, se esses vão se afastar de seus compatriotas para que assistam dois eventos esportivos de nível mundial, conheçam nossa cultura, nossa natureza, enfim, o que o Brasil tem para oferecer, eles também querem que cuidemos com o carinho e atenção necessários para que eles voltem sãos e salvos! Não era assim quando você ia passar a tarde na casa do amiguinho e a mãe dele preparava tudo que você gostava, além de ter que seguir a risca as recomendações da sua mãe para que nada de errado acontecesse? Pois bem. Se as leis são fracas, corrupção rola a solta, impunidade prevalece - argumentos citados pelos próprios jornais internacionais em questão -, como eles vão ter certeza de que seus "filhos" estarão em boas mãos? Compreensível, não? Na cabeça deles, que seria a minha, com certeza neste caso, se não temos capacidade de cuidar de 2 mil vidas, imagine 200 mil!!!

Então, retomando as reflexões sobre ajudarmos e ser ajudados, pegaria bem mal se tivéssemos que pedir ajuda para as mães dos nossos visitantes nos socorrerem se nossa casa caísse em cima deles, não?

Até que a Tia Dilma está fazendo bem esse papel de professorinha que dá "carcada" nos alunos depois do recreio, como fez com os mais de 5 mil prefeitos do Brasil hoje. Mas, ainda assim, falta muuuuito! Humildemente acho eu - tá bom, acredito que outras pessoas também, vai... - que se é para estarmos sob os holofotes, deveríamos estar maduros para sair bem na foto, mas isso não acontece e, DÚVIDO MUITO, que vá acontecer a tempo.

Mas aí, sempre vem os choramingões tupiniquins falar que a Espanha é boba, que os EUA tem cara de pastel, que a França cheira a linguiça ou que o Canadá tem caca no nariz quando eles "citam" o Brasil como fomos citados desta vez.

Mas, repetindo o clichê, apesar de tudo isso, nada repara o estrago causado, mas serve de alerta para o futuro. Infelizmente, é quase sempre assim: ninguém acha que vai acontecer algo e não faz nada. Quando acontece, xiiii...

#PiadistaDaJuréia

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