sexta-feira, 14 de maio de 2010

A arte da argumentação

Este post não se trata de uma pretensão a aula ou uma imposição de uma verdade absoluta. Mesmo porque, sou apenas um estudante ainda, que gosta de questionar tudo sempre que pode. Este post se trata apenas de um ponto de vista sobre a grande arte humana: a da argumentação.

Aliás, para falar de argumentação, já se deve pressupor o descarte completo de preconceitos e algumas rupturas de paradigmas. A argumentação depende de uma lógica. É uma questão de exercer tudo que possuímos e que nos permite a denominação de seres racionais.

O grande problema é a aplicação dela pela maioria das pessoas, sem deixar a emoção ou o ego se sobreporem a ela. Afinal, argumentação depende da racionalidade aplicada sobre a emoção para a validação da mesma. Isto quer dizer que: não basta chamar o fulano de filho da puta; deve-se justificar que sua mãe atua nas proximidades da Rua Augusta, exercendo atividades sexuais em troca de bens monetários, ou não, com valores predefinidos. Ou seja, um dá uma conotação emocional pejorativa e agressiva, o outro denota uma informação que valida a condição de puta da mãe do indivíduo.

Não estou me obrigando a ser prolixo aqui mas, durante o texto, apenas estarei exercendo UM POUCO dessa capacidade racional de alinhar um raciocínio com a finalidade de chegar a uma conclusão que possa ser difícil de refutar (mais uma vez, não estou impondo nada aqui, apenas me permitindo ao jogo do qual o tema dá margens). Sei também que peco, aqui, EM VÁRIAS das premissas básicas da boa argumentação, como a de não escrever em primeira pessoa, pois a pessoalidade enfraquece os argumentos. Mas não estou afim de tornar este post mais chato ainda, então...

Esta ideia de escrever sobre o assunto surgiu há poucas horas, quando assisti a um debate sobre Marketing e Ética na Política Brasileira realizada na ESPM. Na verdade, esta ideia surgiu há pelo menos uns 5 anos, quando comecei a perceber a quantidade de quebra-paus que saem por colocações infelizes e outras interpretações mais infelizes ainda que ocorrem no dia-a-dia das pessoas.

Retomando ao debate, nele estavam presentes dois "dinossauros" com formações diferentes, mas que podem ser chamados de "marketeiros políticos". Caras realmente competentes, capazes e inteligentes, e isto foi comprovado com a apresentação de seus currículos e um pouco de suas experiências, realmente de RESPEITO.

Respeito? Política? Ética? Para muitos são palavras antagônicas. Mas aí é que eu encontro o primeiro argumento sobre a arte da argumentação. Para muitos desses, a política é um meio de gente podre apenas e, por isso, cai em demérito completo a ponto de declararem sem remorso que "não gosto de política e não voto porque só tem corrupto". Ok, aí ao se perguntar com base em que que essa pessoa declara isso, ela provavelmente vai falar dos assuntos em pauta na sociedade naquele momento. Não interessa para ela pesar as verdades e as mentiras, levantar o histórico do político para ter maior embasamento ao criticá-lo, levantar mais ainda as conexões entre esses políticos e o jogo que há por trás disso. Não. Só interessa assumir uma postura para não ficar em cima do muro. "Para onde eu vou?", "Acho que para aquele lado que parece mais bonitinho". Um exemplo disso foi quando, em 2004, uma pessoa próxima a mim foi candidata política e eu ajudei em sua campanha. Essa pessoa tinha boas propostas e uma delas era fazer uma campanha com poucos recursos e de forma limpa - entenda-se "limpa" como uma campanha ética e limpa de sujeira tangível mesmo, sem santinhos e diversos outros materiais que poluíam muito São Paulo em época de eleição. Mas o que eu mais ouvia ao fazer o boca-a-boca era: "Eu não vou votar nela. Ela nem tem banner, santinho e cartazes espalhados por aí!". Sim, eu tive que ouvir isso. A partir daí minha indignação em relação a ignorância política e a ignorância argumentativa só aumentou.

Eu diria que estas pessoas que disseram isso se encaixam perfeitamente no conceito do Homem Médio do Quetelet, citado pela #HeraVenenosa em post anterior. Entretanto, não pretendo levantar esta discussão novamente neste post, pois isso já gerou diversos argumentos aos quais estou condenando aqui e também porque este post já está se tornando suficientemente polêmico.

Mais uma vez, retomando ao debate, estes referidos "dinossauros" que estavam presentes, estavam sendo mediados por um senhor de alto cargo da Escola e um professor muito competente e querido pelos alunos, especializado em Marketing Estratégico. Enfim, para resumir a história, o professor lançou a questão de que marketing é um só, afinal, segundo ele, não existe marketing alimentício, marketing televisivo, etc., o que existe é a aplicação diferente das ferramentas de marketing, como a propaganda, em cada área. Concordo também. Mas isto foi motivo para começar uma série de "ataques-diplomáticos" (aqueles em que se chama o cara de filho da puta daquela outra forma que ilustrei anteriormente), por parte destes dois presunçosos senhores, contra este professor. A situação se agravou com a colocação do professor ao se referir que o político, nada mais é do que um produto que anda e fala. E não é? Um dos argumentos de um dos dinossauros foi: "já fiz mais de 100 campanhas e tenho experiência no assunto. Acredito que o professor, numa campanha contra mim, provavelmente perderia se tratasse seu candidato como produto". Ora, sem entrar em conceitos teóricos para validar um ou outro, acredito eu que "eu tenho X tempo de experiência" é um argumento válido, mas precisa de outros suportes para sustentá-lo. É bem mais cômodo e exige bem menos esforço fazer uma colocação dessas do que buscar justificativas para refutar ao outro em debate. Neste momento, o ego se sobressai à razão. Que pena. Teria sido um debate muito mais valoroso e digno de atenção se isso não acontecesse.

O professor em questão é querido pelos alunos por sua didática, bom humor, sacadas rápidas, sem a soberba. Ele domina o assunto e sabe do que está falando. O outro domina o assunto e também sabe do que está falando, mas acabou por enfraquecer tudo com uma atitude medíocre e sua aparente necessidade de auto-afirmação. A situação, na verdade, ficou mais ridícula quando este senhor de alto escalão da Escola enalteceu o infeliz "dinossauro" dizendo que "a experiência vale mais do que vários cases" e causou uma impressão de desmerecimento do professor de sua Escola! Tudo bem, não podia se esperar mais desse terceiro dinossauro que parece que precisa falar com pompas e rasgar muita seda para mostrar que sabe e que é um bom anfitrião. Essas posturas funcionam no senado federal, assembléias legislativas e outros lugares, não em uma palestra para universitários de comunicação.

Poderia escrever mais algumas páginas mas sinto que já coloquei o principal da minha intenção de extravasar.

Com isto só concluo e indago uma coisa: é tão difícil assim parar para ouvir, pensar, montar uma estrutura lógica mental de argumentos e falar? Eu também levanto uma outra questão: já perceberam como essa falta de raciocínio também leva a intolerância? Normalmente as pessoas que não sabem fazer isso condenam ou chamam de chatas as pessoas que sabem e vice-versa. As pessoas, no geral, têm o péssimo costume de ser combativas às novas propostas que a façam pensar ou desviar e abranger novas estruturas de raciocínio. Elas estão treinadas a rebater de cara o que não gostam de ouvir, sem levar em conta o que o interlocutor tem a oferecer. Elas apenas julgam. E isto vale para o Homem Médio, Alto, Pequeno, enfim, a grande maioria da sociedade.

Por que isso?

#PiadistaDaJuréia

3 comentários:

  1. que bom que eu desisti de ir nessa palestra... teria ficado tão decepcionado quanto você.

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  2. Adorei, mas que raivaaaaaaaaaaaaaaa de tudo que eu vi, percebo que pelo que o renomado vice presidente da ESPM, disse no debate, nós estamos aprendendo a visão errada de marketing, e que jamais poderemos NÓS FORMADOS EM MARKETING, PELA MELHOR FACULDADE DA AREA atuar com o marketing político, deveriamos fazer qualquer outra faculade de merda para atuar nessa area intao!e não jogar o nosso dinheiro no lixo como ele falou entao

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  3. Meu Deus! Com esse portugues era melhor ser acougueiro e usar o dinheiro dos seus pais no aviamento!!

    Onde esse Brasil vai, minha gente?

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